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FLAUTA XXI

Este projeto consistiu na gravação do álbum FLAUTA XXI, com obras para Flauta e Piano dos compositores Sérgio Azevedo (“Suite Inutile”, “Tambourin”, “Suite de Danças”, “Sonatina Nº4”); Paulo Bastos (“Cinco Quadros para Alice”, “Indizível”); Gonçalo Lourenço (“GL66, 5 Bagatelas”); e Eduarda Ferreira (“F.A.C.E.” e “Larau-Larito”). Todas as obras originais referidas foram escritas com carácter didático, a pensar na sua execução pelos alunos das classes de Flauta do Ensino Especializado da Música. As obras inseridas neste álbum têm um grau de dificuldade que vai do 1º ao 8º graus do instrumento.
A ideia de fazer este álbum e gravar estas obras, partiu da necessidade de completar aquilo a que chamo Ciclo da Música. O Ciclo da Música é o conjunto de processos pelos quais uma Obra tem de passar para completar os objetivos para os quais foi criada. Os processos principais associados a este ciclo são, então: composição, edição/publicação, interpretação/execução, gravação e divulgação. Se tomarmos como exemplo uma obra escrita por um compositor, podemos dizer que os dois primeiros processos são únicos e permanentes (caso o compositor tenha um contrato com uma editora de partituras), mas os seguintes poderão estar interligados e repetir-se infinitamente. A experiência enquanto flautista, professor e editor diz-me que este ciclo fica incompleto, carecendo dos processos de execução, gravação e divulgação. É imperativo que estes processos sejam executados, pois só assim a Obra pode ser desenvolvida e dada a conhecer à comunidade musical (inter)nacional, em especial a gravação, como um incentivo a que alunos e professores as venham a usar no ensino do instrumento, cujo repertório é ainda muito parco em obras portuguesas para os níveis de iniciação, básico e secundário que as obras inseridas neste álbum cobrem, algo raro no panorama musical português. A maior originalidade do álbum FLAUTA XXI é o facto de não só conter música escrita para o contexto escolar e educativo, mas também ser constituído por obras de compositores portugueses vivos e a gravação profissional ser inédita. Esta gravação está a contribuir para que a diversidade de repertório gravado para flauta e piano seja aumentada, especialmente no ensino do instrumento, onde o repertório é ainda muito virado para obras de compositores estrangeiros.
O álbum FLAUTA XXI foi apresentado em duas escolas do Ensino Especializado da Música, através de dois concertos comentados. A escolha da Escola Básica e Secundária da Graciosa e do Conservatório Regional de Música de Évora – Eborae Musica foi feita pelos intérpretes, a pensar na divulgação da música erudita portuguesa (de compositores vivos) a públicos mais vastos, numa iniciativa tão necessária de descentralização, promovendo o acesso ao processo criativo e incentivando à realização de mais eventos culturais nestas regiões. Após a sua apresentação, foi enviado para todas as Escolas do Ensino Especializado da Música do país, como meio de divulgação mais alargado.

JOÃO VIDINHA
João nasceu em Portugal, onde começou a tocar flauta na Fundação Musical dos Amigos das Crianças com Anthony Pringsheim. Continuou os seus estudos na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) com o mesmo professor e, após aulas privadas com Katharine Rawdon, foi estudar para o Conservatorium van Amsterdam (CvA) com Marieke Schneemann, onde acabou o seu Mestrado em Música em 2010. Em 2016, finalizou o Mestrado em Ensino da Música também na ESML. Participou em Masterclasses por Emily Beynon, Kersten McCall, Jed Wentz, Wil Offermans, András Adórjan, Vincent Cortvrint, Jaime Martín, Carin Levine, Irmela Bossler, Félix Renggli e Carlos Bruneel. Durante os seus estudos, tornou-se um experiente executante em orquestra: RBO Sinfonia, Amsterdam Symphony Orchestra, CvA-Symphony Orchestra, VU-Orchestra, LSKO Collegium Musicum, Orquestra Sinfónica Portuguesa, O.C.C.O., Orquestra Sinfónica Juvenil – Portugal (com a qual tocou a solo o Concerto nº7 em Mi Minor de F. Devienne) e música de câmara. Iniciou a Editora internacional Scherzo Editions em 2012 e a portuguesa Arpejo Editora em 2019. Gravou o seu primeiro álbum em 2018, com o título “Fricções”, de música para flauta solo e com eletrónica, de compositores portugueses da actualidade. É professor de flauta na Escola de Artes do Alentejo Litoral desde 2021.

ANA FILIPA LUZ
Ana Filipa Luz nasceu no Entroncamento e começou os seus estudos pianísticos em 1999. Desde então, aperfeiçoou-se com músicos e professores reconhecidos como Ana Telles-Béreau, Pedro Burmester, Elizabeth Allen, Alexei Eremine, Paul Wakabayashi, Sara Davis Buechner, Pascal Moraguès, Kyoko Hashimoto, Vlad Iftinca, Hugo Mayeux, Katia Borissova, Hubert Meyer, Kenneth Weiss, entre vários outros. É Mestre em Ensino de Música – Piano pela Universidade de Évora. É ainda pós-graduada na área da pedagogia pianística pela mesma instituição. Foi galardoada com o 2º Prémio na categoria de Música de Câmara na primeira edição do festival “Verão Clássico” e atuou em diversas ocasiões para a RTP/Antena2. Apresenta-se com frequência como pianista acompanhadora e/ou continuista, destacando-se a sua intervenção nas óperas “Giulio Cesare in Egitto” (Haendel), “Dido e Eneias” (Purcell), “Così fan tutte” (Mozart), “Bastien und Bastienne” (Mozart), o festival coral “VOCALIZZE”, o curso de ópera “Setúbal CantoFest”, apresentações com várias orquestras nacionais, participação na gravação de um CD dedicado a Gustavo Romanoff Salvini, acompanhamento de recitais líricos e instrumentais, masterclasses, concursos, workshops, entre outros. Lecionou, previamente, no Conservatório Regional do Baixo Alentejo e no Conservatório de Ourém e Fátima. Leciona, desde 2007, no Conservatório Regional de Évora “Eborae Mvsica” e também na Universidade de Évora, na qualidade de pianista acompanhadora desde 2012. Desde 2022 Pianista Correpetidora no Festival Immling na Alemanha, trabalhou com os directores de orquestra Cornelia von Kerssenbrock e Evan Christ em produções de “La Traviata” e “Nabucco” (Verdi), “Salome” (Strauss), “Madame Butterfly” (Puccini), “Norma” (Bellini), “Die Zauberflöte” (Mozart), “Das Land des Lächelns” (Léhar), entre outras.

SÉRGIO AZEVEDO
Sérgio Azevedo nasceu em Coimbra, Portugal, em 1968. Estudou com Fernando Lopes-Graça na Academia de Amadores de Música e na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) com Christopher Bochmann e Constança Capdeville, onde concluíu o Curso Superior de Composição com nota máxima. Ganhou vários prémios nacionais e internacionais, entre os quais o “United Nations Prize” e o “Prémio Autores” (SPA) de 2010, e as suas obras são regularmente encomendadas e tocadas por prestigiosos intérpretes e orquestras, estando presentes em mais de 50 CD’s. Publicou três livros, “A Invenção dos Sons”, “Olga Prats – Um Piano Singular”, e o “Guia dos Jovens para a Composição Musical”, escreve para “The New Grove Dictionary of Music and Musicians” e desde 1993 tem criado centenas de programas para a RTP – Antena 2, estando neste momento (2023) no ar “Ao Sabor da Corrente”. Sérgio Azevedo é Doutorado pela Universidade do Minho e, desde 1993, professor de Composição e Orquestração na ESML.

NOTAS DE PROGRAMA: Suite Inutile, Suite de Danças, Sonatina nº4, Tambourin
Duas das quatro peças incluídas neste CD resultaram da minha relação com o flautista e professor Rodrigo Santos Lima e foram escritas para uma sua aluna, Caetana Soares, cujo empenho no estudo do instrumento me fizeram escrever-lhe, primeiro a Suite de Danças e, uns meses mais tarde, a Sonatina nº4, mais ambiciosa em termos formais e expressivos. A suite, como o título indica claramente, consiste em cinco pequenas danças oriundas de várias geografias e épocas: um minueto, um tango, uma valsa (mais francesa que vienense neste caso), uma espécie de dança lenta exótica tropical, de sabor “Hollywoodesco”, e uma tarantela.
Já a Sonatina nº4 serve como uma introdução a géneros formalmente mais ambiciosos, neste caso a sonata, mas sendo uma obra mais simples é monotemática e tem apenas três andamentos, como se de um concertino se tratasse. Aliás, semanas depois da publicação da obra orquestrei-a para flauta e cordas, na forma do meu Concertino nº3, sem alterar absolutamente nada da versão original. Não obstante se tratar de duas obras destinadas a crianças e jovens, quer a Suite quer a Sonatina – como aliás, quase toda a minha música deste tipo – ganham em ser interpretadas por profissionais adultos, uma vez que a sofisticação da escrita tal permite.
A Suite Inutile, tal como a Suite de Danças, consiste num conjunto de números musicais de diferentes proveniências, algo que foi sempre característico do género desde o Barroco: Passepied, Fugue, Valse, Intermezzo, Pavane e Scarlattiana. Os títulos em francês, quer o da Suite quer os de alguns dos seus andamentos remetem para Ravel, ao qual faço algumas referências nesta obra (referências oblíquas, sem usar nenhuma citação directa), nomeadamente à suite Le Tombeau de Couperin (Fugue) e às Valses Nobles et Sentimentales (Valse), obras já de si escritas em homenagem a Schubert (das Valses Nobles e Valses Sentimentales Ravel retirará, inclusive, o seu título), e cuja epígrafe da última, da autoria de Henri de Régnier, reza assim: “…le plaisir délicieux et toujours nouveau d’une occupation inutile“…
Ao contrário porém das pequenas e singelas Suite e Sonatina, a Suite Inutile exige quer da flauta quer do piano uma técnica profissional que a tornam numa obra de concerto de grande virtuosidade. Foi, aliás, escrita por encomenda do Duo Somniatis (Sofia Silva e Margarida Sousa Prates), que a estrearam a 19 de Maio de 2015.
Quanto a Tambourin, é uma singela peça de virtuosidade para a flauta, pela velocidade de articulação que exige, e baseia-se na esfuziante dança com o mesmo nome. Foi escrita como um curto “encore” para o fim de um recital e, nessa qualidade, tem mais sentido ser executada dessa forma do que como uma peça independente no decorrer de um programa.

PAULO BASTOS
Paulo Bastos nasceu em Vila Pouca de Aguiar. Começou a estudar música com Hélia Soveral na Escola de Música do Porto. Posteriormente terminou a Licenciatura em Composição na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, onde foi agraciado com o “Prémio de Melhor Aluno” e o Mestrado em Teoria e Análise Musical na Universidade de Aveiro. Trabalhou com diversos compositores e agrupamentos, como The Strasbourg Percussions, Sharon Kanach, Filipe Pires, Dieter Schnebel, Cândido Lima, Stefano Scodanibbio, Álvaro Salazar, Gerhard Stäbler, Jorge Peixinho, Nicolaus A. Huber, Virgílio Melo e Ken Valitsky. A maioria da sua obra foca-se em música de câmara e música para crianças, não obstante o número significativo de obras para orquestra, instrumento solo e eletrónica. Algumas estreias, gravações, bem como dedicatórias da sua música tenham sido escritas especialmente para e encomendadas por grupos e músicos de qualidade conceituada. Leciona Análise, Composição e Música Eletrónica no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga desde 1996.

NOTAS DE PROGRAMA: Cinco quadros para Alice, Indizível
A primeira edição de Cinco quadros para Alice foi feita pelo Centro de Estudos da Universidade do Minho. Deixo aqui o meu agradecimento especial à Doutora Elisa Lessa pela forma entusiasta com que recebeu estes “quadros” e os fez passar a música. Como resposta ao desafio do compositor Eduardo Patriarca escrevi, para flauta e piano, a quarta peça deste pequeno ciclo – Do cats eat bats? – para o Concurso Marília Rocha, edição de 2009. Porém, à medida que ia compondo esta peça, pressenti que ela faria parte de um ciclo, ainda não escrito. Sob este pressentimento, fui escrevendo as restantes peças, encarando tal facto como uma inviabilidade, assim teria que ser… Este ciclo de peças, escrito num ápice, relata, em forma de fantasia, cinco momentos da aventura “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll: o primeiro momento – Down, down, down – descreve a queda, aparentemente sem fim, de Alice no buraco que a levará ao país das maravilhas; o segundo quadro – White Rabbit – apresenta a personagem que suscitou a Alice toda a curiosidade inicial, o Coelho Branco; o terceiro momento – Who am I then? – transmite a inquietude constante de Alice em relação ao que a rodeia, quer isso faça parte do seu mundo real ou do seu novo mundo de fantasia e descoberta; o quarto quadro é, expressamente, a segunda pergunta da curiosa Alice – Do cats eat bats? – que simboliza algum nonsense patente na maior parte das perguntas da pequena rapariga (a determinado momento da história ela inverte as personagens perguntando também se os morcegos comem gatos!); o quinto e último momento – Off with her head! – descreve, literalmente, a frase lapidar da déspota personagem Rainha de Copas, “cortem-lhe a cabeça!”. Esta ordem final da rainha é textualmente enfatizada pela célula rítmica: colcheia, duas semicolcheias, colcheia = Off with her head!.
Escrevi “Indizível” (2015) para flauta e piano para Morgana Patriarca, pretendia-se um conjunto de miniaturas com o limite de duas páginas. “Indizível”, trabalho único de um álbum de pequenas peças, escritas por vários compositores amigos de Eduardo Patriarca para o décimo oitavo aniversário de sua filha Morgana, propõe música num ambiente inefável, onde nem tudo se exprime da forma normal, num espaço de coisa mínima, o espaço de duas folhas vazias.

GONÇALO LOURENÇO
Gonçalo Lourenço nasceu em Lisboa em 1979. Bacharel em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, em 2005, onde trabalhou com o Professor Christopher Bochmann. Mestre em Direção Coral pelo College Conservatory of Music, em Cincinnattinos EUA, em 2011, onde trabalhou com os Professores Brad Scott, Elmer Thomas e Earl Rivers. Na Universidade de Cincinnati, trabalhou, enquanto ”Minor de Direcção de Orquestra”, com o Maestro Mark Gibson. Doutorado em Direção Coral na Universidade de Indiana, em 2016, onde trabalhou com os professores Robert Porco, Carmen Téllez, Willliam Gray e Sven-David Sandstrom. Actualmente, é Professor de Coro na ESART, onde trabalha com o Coro Geral da ESART e com o Coro Autêntico, onde gravou quatro cds, um com músicas de compositores da biblioteca de Vila Viçosa do sec. XVI/XVII, o Requiem de Bomtempo com João Paulo Janeiro e o Flores Mvsica, peças para Quarteto de Guitarras e Coro e finalmente os Carols Completos de Christopher Bochmann. É o Diretor Artístico do Veledas Festival e fundador do Coro de Câmara Cetóbriga.

NOTAS DE PROGRAMA: GL66, 5 Bagatelas
GL 66, 5 Bagatelas para Flauta e Piano, foi um desafio lançado por João Vidinha, no intuito do projeto “5 graus 5 peças”. A ideia surge da necessidade de repertório didático, direcionado a alunos de Escolas do Ensino Especializado em Música, visto que, no repertório de compositores portugueses, é escassa. Sendo gradativo, vai aumentando a dificuldade, começando pelo 1º grau e acabando no 5º, misturando música tradicional portuguesa com música contemporânea.

EDUARDA FERREIRA
Nascida em 2001, Eduarda Ferreira conclui o Curso Básico do Ensino Articulado na classe de trompete e o 8º grau no Curso de Formação Musical, na Academia de Música José Atalaya. Atualmente, frequenta a Licenciatura em Direção Coral e Formação Musical, na Escola Superior de Música de Lisboa. Em 2017, ganhou uma Menção Honrosa no 4º Concurso de Composição de Canções para Crianças, com a obra “O relógio de sala” a qual foi publicada na Separata online da APEM e gravada para o site Cantar Mais – Mundos com voz. Em 2019, ganhou o 1º prémio no Concurso Prémio de Composição Século XXI, com a obra Imagens, a qual está editada na Scherzo Editions. Participou no 6º Estágio da Orquestra Sinfónica Ensemble, publicou na Arpejo Editora “Encanto” e “Popular a Cappella” e, em colaboração com a APEM, criou o projeto “Criar que som tem?”. Em 2021, integrou a lista de compositores do projeto 36 semanas 36 estudos da Arpejo Editora. Participou em diversos Encontros Nacionais da APEM e em Ações de Formação com Sarolta Plátthy e László Némes. Também assistiu a palestras organizadas pelo Instituto Superior de Estudos Psicológicos, Barcelona, e pelo Centro Neuro Sensorial, Braga. Desde de 2019, colabora com a APEM e com o site Cantar Mais – Mundos com voz, tendo gravado canções e atividades para o mesmo.

NOTAS DE PROGRAMA: F.A.C.E., Larau-Larito
O tema da peça F.A.C.E. desenvolve-se a partir de um acorde de 7ªM sobre a fundamental Fá. Não por acaso, se usarmos letras para designar as notas deste tema melódico, como é norma nos países anglo-saxónicos, esta sequência de letras forma a palavra que dá título à peça – FACE. As variações do tema permitem explorar padrões rítmicos, articulações, dinâmicas e sonoridades diferentes.
A melodia desta canção tradicional portuguesa – Larau-Larito – é aqui apresentada de forma a poder ser explorada de forma criativa, usando-a como tema para variações, à semelhança do que acontece com o queijito e o gatito da história que esta canção canta. As três variações do tema apresentadas têm características diferenciadas, não só rítmicas como, também, de articulação e acentuação.

CD

FICHA TÉCNICA
João Vidinha | Flauta, Produção, Edição
Ana Filipa Luz | Piano
Mariana Rosa | Design da Capa
Duktus Sound Studio | Gravação, Edição áudio